Lesões não acontecem por acaso
Hey folks, estamos vivendo os Jogos Olímpicos do Japão e, ao menos por duas semanas, o esporte, de maneira geral e não apenas o futebol, se fará presente em nossas vidas. Talvez não nas rodas de bar, mas nos grupos do WhatsApp. Comentaremos sobre performances espetaculares, momentos de superação, fracassos, alegria, dor, sensações de injustiça, impotência, mesmo que às vezes nem conheçamos as regras. Porém, o torcedor é isso. Ele, enfim, é a razão maior para tudo.
Por alguns instantes, nos sentimos atletas e, muitas vezes, voltamos a ser crianças. Temos poucas certezas sobre o que acontecerá, no entanto uma coisa eu posso apostar: em algum momento, quando estivermos assistindo alguma competição, algum atleta se lesionará sozinho e nesse instante o comentarista lamentará e dirá que foi uma fatalidade. Da minha parte não acredito em fatalidades. Neste universo nada é espontâneo. Nada se cria do nada. Tudo é consequência ou uma reação como resposta a algum processo ou alguma combinação.
Em outras palavras, lesões não acontecem por acaso. E quando pensamos assim podemos interferir nesse processo a fim de que não aconteçam, mas se acredito que são fatalidades, o que posso fazer? Talvez alguma simpatia, mandinga ou oração. Porém, se tento encontrar a real causa de alguma lesão, abro meu olhar e percepção para as infinitas possibilidades. E como eu disse, se são infinitas possibilidades, mesmo que eu não encontre a causa, não quer dizer que ela não exista, mas que meu conhecimento não dá conta de entender. No entanto, isso me impulsiona a saber mais, coisa que não aconteceria se eu pensasse que essa lesão foi causada por azar. Isso serve para lesão em atletas e para dores e lesões que surgem nas pessoas comuns, como uma dor nas costas ou no joelho, ou até aquelas que já demos nomes, como hérnias de disco e condromalácia.
Aqui já temos a primeira conclusão. Tudo tem uma causa. Talvez isso não seja uma conclusão muito difícil de fazer, contudo agora vem a segunda constatação que não é tão óbvia assim, visto que a maioria dos profissionais da área tem essa dificuldade. Sintomas não são causas. Trabalho desde 1997 com reabilitação através do movimento e essa confusão sempre esteve presente. O aluno chega para mim com uma dor na coluna e diz que essa dor é em função de uma hérnia. Isso é uma verdade parcial. A pergunta que costumo chamar de “pergunta de um milhão de dólares” é: o que causou essa hérnia de disco? Essa condromalácia? Essa tendinite? Essa artrose?
Ou seja, o que a maioria das pessoas chama de causa são apenas sintomas. Vou explicar melhor. Imagine que você sente dores em um joelho e ao ir ao seu médico ele diz que você tem uma tendinite e isso é a causa das suas dores. Porém, em um corpo harmônico você não teria tendinite. Então, explicar a sua dor a partir da tendinite não explica tudo e faz com que você não consiga solucionar esse problema. O máximo que você faz é aliviar o sintoma. Você aplica gelo no joelho, faz ultrassom ali também, infravermelho, utiliza anti-inflamatórios, usa joelheira, faz infiltrações e para de fazer atividades como corrida, porque seu joelho dói.
Talvez você culpe também a corrida, mas a verdade é que nosso corpo é feito para correr e se seu joelho dói ao correr não é pela corrida, e sim pelas condições sob a qual seu joelho está realizando essa tarefa. Eu acredito que você não deveria ter tendinite. Se você tem isso, é uma resposta do seu corpo como reação à condição que ele está sendo imposto. Logo, a tendinite não é causa, e sim consequência. Algo não está legal e uma carga muito grande está chegando ao seu joelho durante a corrida fazendo com que ele tenha que fazer um trabalho diferente do que ele tem que fazer e, por estar sobrecarregado, ele inflama seu tendão.
Por fazer essa leitura, entendo que preciso encontrar essa causa. Vamos imaginar que esse estresse que chega ao joelho e causa essa inflamação seja oriundo de uma pisada inadequada. A partir dessa pisada o movimento da perna acontece de uma forma diferente do correto e isso faz o joelho “atritar” mais do que o normal, encostando osso com osso e, com isso, gerando inflamação.
Aqui eu te pergunto: fazer gelo, ultrassom, infiltração e todos aqueles tratamentos no joelho citados acima resolveriam o problema da pisada? Não. Então não funcionariam, porque a tendinite nunca foi causa, mas sintoma, e para solucionar um problema precisamos abordar a causa. E como encontrar a causa? Uma avaliação de movimento de maneira 3Dimensional, integrada e holística consegue detectar disfunções e, com isso, o caminho para reestabelecer o padrão dos movimentos seria muito claro, e, uma vez que melhorar uma pisada não é algo muito complexo, em pouco tempo você poderia correr novamente e sem dor. Toda vez que temos um problema como uma dor no joelho que aparece quando corremos posso ter duas soluções: parar de correr ou estudar o corpo para entender o porquê, ao correr, sinto dor. E como resultado criar uma forma de correr sem dor. Sempre prefiro a segunda forma.
Comecei falando sobre esporte de alto rendimento e vou terminar com ele. Muitas vezes, assistindo a jogos de futebol nos deparamos com a cena de um atleta com um estiramento na parte posterior da coxa. Normalmente, isso é tratado como inevitável. Mas, a verdade é que não é. Para cada tarefa que o corpo tem que realizar, ele tem que ter condições de executar. Ele precisa ter disponível todos os recursos para essa tarefa.
Alguns anos atrás acompanhei por uma semana, a convite de um amigo fisiologista, um time grande aqui de São Paulo em sua preparação. Sem poder realmente avaliar, só observando a forma como eles se movem, podia ver inúmeros atletas com padrões de movimentos completamente alterados. Por não haver no clube um analista de movimento com entendimento em movimento 3Dimensional, ninguém via isso, e por consequência, não corrigiam esses padrões. Em função de não perceberem, muitos treinos só reforçavam essas disfunções. Principalmente os treinamentos isolados, que não têm nenhuma correlação com os movimentos que acontecem no futebol.
Conclusão, alguns jogadores não saíam do departamento médico. Estavam sempre lesionados. E qual era a solução dada? Parar o atleta até ele se recuperar e começar todo o trabalho de novo. E como esperado, em pouco tempo sentia dores no mesmo lugar, ou em algum lugar diferente, porque outra coisa que uma lesão faz é alterar o padrão de movimento, sobrecarregando assim outro lugar também. Essas lesões seriam facilmente evitadas corrigindo os padrões de movimentos que são as causas das dores.
Por isso digo que lesões não acontecem por acaso. Existem jogadores que nunca se machucam. E quando se machucam foi por algum trauma, e não uma lesão do nada. Porque se movem em harmonia e possuem todos os recursos que o futebol necessita, mesmo que os treinamentos, muitas vezes, não estimulem esses recursos. Por outro lado, existem jogadores que, ao tentar encostar a mão no chão, não chegam nem no joelho, como vão conseguir desempenhar esse esporte que exige tanta mobilidade da cadeia posterior do corpo? E aqui não adianta falar que eles alongam, porque esses alongamentos não resolverão esse problema, até porque eles já os fizeram inúmeras vezes, sem resultado, mostrando a ineficiência de se alongar estaticamente e unidimensional. Mas isso é tema para outro post. O que importa é que estão sem recursos para exercer o futebol e o treinamento isolado só tirará mais recursos dele, visto que ele encurta ainda mais essa cadeia.
O que concluo aqui é que devemos sempre estudar nosso corpo e sua harmonia e como cada parte dele interage com as outras de maneira integrada e 3Dimensional. Seja no esporte, nas Olimpíadas ou na sua casa com suas dores. Onde dói, inflama, estira, rompe não é a causa, e sim a vítima. É quem está pagando um preço muito alto pela disfunção de outra parte que está causando tudo isso. E não adianta avaliar isoladamente, porque elas podem funcionar muito bem isoladas, mas pessimamente quando integradas.
Entretanto, o que realmente faz a diferença é descobrir as causas. Esse é o segredo para aliviar as suas dores. Imagino que você esteja cansado de fazer tratamentos e não se livrar delas, até porque a ressonância que mostra a hérnia de disco não mostra o pé, que tem uma correlação enorme com disfunções da coluna. E se ele for a causa, não tem nada que você possa fazer na sua coluna para solucionar essa questão. Encontrar a causa pode não ser tão simples, dado que temos infinitas possibilidades.
No entanto, eu vou te ajudar, meu leal leitor. A partir da semana que vem, abordarei isso em uma série chamada: as causas das dores. Você vai se surpreender com tantas possibilidades que existem, que você nunca pensou, nunca te falaram, que têm soluções simples e podem ser o verdadeiro segredo por trás da sua dor. Contudo, por hora, enquanto esperamos as próximas colunas, vamos voltar a torcer nas Olimpíadas, mas agora sem imaginar que, ao ver uma lesão, tenha sido uma fatalidade. Não foi. Foi falta de treinamento 3Dimensional.
Forte abraço,
Samorai