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Paolla Oliveira: gostosa e cansada

À Boa Forma de março, a atriz se abre sobre estar cansada de rebater comentários sobre sua aparência e conta como a maturidade a fortaleceu

Por Ana Paula Ferreira
Atualizado em 11 mar 2024, 13h20 - Publicado em 11 mar 2024, 10h00

“Estou com 40 e poucos anos, tenho uma carreira estabelecida, que veio muito em ascensão, sou uma mulher independente… Isso é um motivo de orgulho para mim.”

De fato, Paolla Oliveira é uma das atrizes mais famosas do Brasil e esbanja autoconfiança e amor-próprio, servindo de modelo para tantas outras mulheres — além de atualmente viver um relacionamento que é inspiração para muita gente.

Há muito que se falar sobre a vida, as conquistas e o sucesso dela. Porém, no início do ano, a atriz se viu novamente diante de uma pauta que, para ela, já está saturada: as críticas a seu corpo. Para a capa de Boa Forma, inclusive, a atriz posou com um look que passa a mensagem (veja abaixo).

“Quando a gente fala muito sobre um assunto, ele meio que esgota. Então acho já que falei tudo, sabe? Me ‘desentalei’ de vários assuntos e já estou fazendo isso a algum tempo: falar, não ficar mais passiva nesse jogo. […] Foi cansativo, mas também foi bem renovador para mim”, ela contou.

Segundo Paolla, ser uma mulher mais madura e empoderada hoje influencia na forma como ela lida com as questões como o julgamento alheio.

“A maturidade é muito bonita, é muito poética. Acho que traz sim [o empoderamento]. Mas o que mais traz para a gente é um botão do ‘foda-s*’ gigante, que a gente tem que manter acionado. A hora que você se sentir confortável para isso, ligue, porque é ele que vai te fazer ficar mais feliz na vida.”

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A seguir, você confere nossa entrevista completa com Paolla Oliveira.

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A atriz na capa da edição de março de Boa Forma (Marina Zabenzi/BOA FORMA)

Vida de celebridade

Queria começar falando sobre os episódios das críticas a seu corpo. Você está cansada das pessoas invadindo seu espaço falando sobre sua aparência?

Eu estou um pouco. Quando a gente fala muito sobre um assunto, ele meio que esgota. Então acho que já falei tudo, sabe? Me “desentalei” de vários assuntos e já estou fazendo isso a algum tempo: falar, não ficar mais passiva nesse jogo, ainda mais para a gente, que está exposto. Nesse jogo da vida, ficar só calada eu vi que não serve. Então foi bom poder falar. Foi bom ver também como as pessoas são sem noção quando elas criticam outras mulheres, quando mulheres criticam outras mulheres. Foi bom a gente colocar isso em pauta. Outras mulheres vêm falando muito sobre isso, com outros recortes, outras vidas, outras situações. Elas falam de outros lugares, então sempre que a gente puder debater e questionar, é bom. Eu fui ali, dentro do meu espaço, fazer isso. Foi ótimo, mas acho que já está tudo falado. Acho que o ápice dessa conversa toda é que mulheres são colocadas sob pressão a todo momento, e independe do que elas façam, do poder ou da independência que elas tenham, e até mesmo do nível de privilégios que elas tenham, elas vão estar expostas a esses níveis de pressão. Foi cansativo, mas também foi bem renovador para mim.

Pelo que podemos acompanhar nas redes sociais, você costuma responder essas críticas e ataques sempre com certa leveza. Assertiva, mas de uma forma educada. Esses assuntos não te tiram a paciência?

Algumas pessoas eu mando [à merd*], tá? Para algumas pessoas, que têm coragem de falar alguma coisa na minha cara, eu respondo à altura. O que acontece é que eu já sofri algumas coisas, então é como se minha ira, minha tristeza, tivessem um pouco antigas. Eu já passei por isso, já me privei de coisas. E aí, a hora que eu percebi que eu estava sem lugar, foi que consegui falar. Acho que é por isso que você não vê essa Paolla irritada, essa Paolla onça, porque eu já transcendi um pouco, eu falo de um lugar de um pouco mais de confiança. Não é que eu tenha toda a confiança. Eu ainda estou buscando. Tem várias horas que você sai de um buraco. Eu não tenho total confiança, mas a que eu adquiri, eu passo para você dessa maneira. Posso falar para você: “Cara, não se preocupa com isso. Isso acontece com você, acontece comigo… Não dá bola”. Não é nenhum nível de arrogância, de auto-suficiência, mas é assim: eu já passei algumas coisas, eu não quero é passar mais. Agora, se alguém vem com alguma “novidade” em relação a isso, vai tomar uma [risos].

E você sempre teve uma boa relação com seu corpo?

Não. Até fingia que tinha, mas não tinha. Eu achava que precisava falar dos defeitos. É como se eu não pudesse me sentir bem do jeito que sou. Eu tinha que arrumar um problema para mim, como se toda mulher tivesse que ter um. “Eu sou arrogante se eu falar que me sinto bonita, que olho no espelho e gosto do conjunto que vejo”, sabe? É quase como se não fosse permitido esse lugar. Então várias vezes, de tanto falar que você tem defeitos, você encontra isso. Eu queria ser mais alta, ter a coxa menor, o cabelo de outro jeito…  E assim a gente vai tanto entrando na expectativa dos outros, que a gente acaba acreditando nisso. Várias vezes arrumei defeitos para mim porque eu achava que tinha que fazer isso para ser legal, e por muito tempo deixei de fazer coisas por conta desses defeitos que eu acreditava que tinha. Agora o que é “defeito” também é bom. São novos tempos. Que bom!

Você acredita que a maturidade te ajudou a lidar com isso dessa forma? 

Sim, mas isso eu já ouvia antes que ia acontecer. Todas as mulheres falando da maturidade e a gente fala: “Ah, tá! Que raio de maturidade é essa que tu vai trazer? Que estrela mágica cadente é essa que vai trazer essa coisa maravilhosa?”. Mas traz e é uma coisa bem menos poética do que as pessoas podem imaginar. É um “foda-se” bem grande, é um “dane-se” que você pensa: “Não vou deixar de usar, não vou deixar de fazer, não vou! Vou deixar se eu quiser, vou mostrar a parte do corpo que eu quiser, postar foto que eu tiver a fim…”, entende? É um nível de confiança em si. Eu vivo uma vida exposta, então tem muita gente falando, mas os pequenos grupos também têm. Tenho muitas mulheres {a minha volta que também estão preocupadas com o que as pessoas do trabalho vão dizer. Então a maturidade é muito bonita, é muito poética, acho que traz, sim [o empoderamento], a vivência traz isso. Mas o que mais traz para a gente é um botão do “foda-se” gigante, que a gente tem que manter acionado. A hora que você se sentir confortável para isso, ligue, porque é ele que vai te fazer ficar mais feliz na vida.

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Mas eu fui inspirada por outras mulheres: quando ouvia outras falando de corpo, quando via uma mulher colocando uma roupa que eu não tinha coragem de colocar… Fui inspirada por cada luta feminista e por cada pessoa que falou: “Olha, isso é feminismo”. A gente tem passado por um período muito educativo nesse quesito. Agora estou com a Taís [Araújo] no especial “Falas Femininas” e eu falo isso para ela. Ela tem um recorte diferente em vários aspectos dos meus, mas ela é uma mulher que me inspira. A gente tem que falar. Não podemos deixar de falar, porque assim como eu fui incentivada, outras pessoas também serão.

“Vidas solteiras importam”

Outro tema que as pessoas falam muito sobre sua vida é relacionamento e maternidade. Você e o Diogo Nogueira se tornaram um modelo de “casalzão”. Vocês curtem ser essa referência de relacionamento para tantas pessoas?

Ser referência de alguma coisa às vezes é meio assustador, mas ao mesmo tempo é bom. É bom você ser uma referência boa para alguém, para casais ou até mesmo como vejo muita gente sacaneando [na internet] ao falar: “Vidas solteiras importam. Solteiros não têm um minuto de paz, é esse inferno toda hora”. O que mais me agrada nisso tudo é que tem um tom pouco sério. Acho que a gente se levar muito a sério é uma grande roubada. Tem uma coisa que eu levo muito a sério, que é meu trabalho. O resto, rede social, eu acho que tem que ter humor. A gente tem que se auto-sacanear ou então ficar pronto para virar um meme a qualquer momento e está tudo certo. Isso tem a ver também com meu relacionamento. Esses dias eu vi algo que a gente fez de errado e eles [internautas] postaram só os pedacinhos do vídeo. Esse bom humor deixa as coisas mais leves. Acho que se fosse uma referência do casal perfeito, guardado numa redoma, eu ia querer arrebentar essa redoma. Acho que esse outro jeito é legal.

Com o relacionamento, você sente que as cobranças pela maternidade aumentaram?

Não, graças a… Eu ia falar “Graças a Deus”, porque a gente está acostumada. Mas é graças a todas as mulheres que falam sobre maternidade. Graças a mim que consegui também falar sobre esse tema. Eu acho que pelo contrário, as pessoas pararam um pouco, elas estão vendo que a gente está feliz, está bem e que a gente é um casal. Existe ainda uma vertente da corrente que acha que todo rio leva para um lugar, que todo relacionamento leva para ter filhos, mas já não é a corrente toda que pensa assim e isso é muito bom. É muito bom saber que a gente tem uma vida e que a maternidade é uma opção. Opção minha em primeiro lugar, porque a mulher que gera, e, em segundo lugar, uma decisão do casal – e o Diogo é super tranquilo, tem filho inclusive. Então eu posso com toda a alegria do mundo te dizer que não aumentou [a cobrança]. Tem um ou outro que tenta me fazer uma pergunta assim meio capciosa, e eu já dou aquela olhada assim, e aí já mudam de assunto.

Então ter filhos é algo que você tem deixado rolar ou algo para pensar no futuro?

Olha, o futuro é muito tempo, então eu acho que é uma decisão por esses tempos. Eu já tive várias estágios de “maternidade”, de querer, de não querer, de não saber, de ter vergonha de responder. Hoje a gente fala com toda a tranquilidade: “É uma decisão minha e a minha decisão, por esse momento, é que eu não quero”. Eu tenho óvulos congelados, todo mundo já sabe disso, então eu ainda tenho a possibilidade de reverter essa minha escolha mais complexa. Mas, por enquanto, é uma escolha para um futuro próximo.

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(Marina Zabenzi/BOA FORMA)

O poder do “não”

A pressão consequente da fama te afeta psicologicamente hoje em dia?

Me afeta menos, porque eu me coloco no meu lugar. A rede social amplia muito quem a gente é e, às vezes, nessa coisa de ser conhecida, perdemos as referências de quem realmente somos. Qual é o meu tamanho? Qual a minha importância? Será que sou tão relevante? Para algumas coisas, sim, e eu tomo meu espaço. Mas, para outras, é só uma passagem. Esses dias eu falei que críticas e elogios são uma passagem. Não dá para se ofender tanto e nem para fingir que não existe.  Manter esse equilíbrio demanda um esforço, mas tento manter ele da melhor maneira possível, sempre me colocando no meu devido lugar – com importância, mas sem que seja sofrido.

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Você faz terapia para cuidar da saúde mental?

Eu abandonei minha terapeuta no Carnaval [risos], mas faço há muitos anos e também procuro outras coisas. Busco terapiaa holísticas e terapias de várias vertentes, que é para tentar sempre estar conectada comigo. Acho que todo mundo deveria fazer terapia. Costumo dizer que muitas pessoas gostam de várias coisas de luxo e, para mim, a terapia é um artigo de luxo. Eu faço e adoro.

O que significa bem-estar para você e o que você tem feito para cuidar do seu?

Eu acho que bem-estar, assim como a felicidade, é uma sensação. Às vezes temos tudo e a sensação de que não temos nada. E quantas pessoas a gente vê que não têm grandes condições, mas são pessoas felizes? Então acho que isso é um estado e eu busco isso com as coisas mais simples que você possa imaginar. Minhas férias agora foram um momento para eu me reconectar, para reconectar meu casal, para colocar minha cabeça no lugar. Eu amo ficar na minha casa, com amigos, tomar um drink, falar da vida. Para o meu bem-estar hoje em dia eu também tenho dito muito “não”. “Não quero, não vou”, ou aceitar ter um pouco mais de coragem para fazer algumas coisas diferentes. Eu acabei de terminar um trabalho agora, que é “Justiça”, e de sair de uma empresa que eu estava conectada há 18 anos. E todas essas possibilidades são de bem-estar, não ter que agradar ninguém, ter coragem para o inesperado da vida, tudo isso… Me gera um bem-estar danado a sensação de auto-suficiência. Saber que gente pode fazer as coisas, que não precisa ficar preso às coisas, que a gente não pode dominar tudo.

Movimento

Para cuidar do corpo e da saúde física, o que você tem feito?

Eu sempre fiz exercício físico. Uma coisa que nunca saiu da minha vida foi ou a dança ou a musculação. Todo mundo acha que é por estética, mas é para a vida. Quando paro, eu não fico 100%. Meu corpo, meu movimento, minha agilidade, minha cabeça não ficam 100%. De vez em quando gosto de inventar uma coisa nova: vou para yoga, andar de skate, fazer uma massagem – que é um outro luxo.

Musculação é a modalidade que você mais gosta de praticar?

Sim. Gosto de malhar mesmo, de musculação, mas como exercício físico incluo todas as outras atividades, como jogar vôlei, futebol, etc. Porém o que eu faço há 18 anos ou mais até é a musculação mais tradicional.

Confira aqui o treino da atriz

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Você curte comer alimentos saudáveis ou é uma “obrigação” pela saúde?

Se eu falar para você que não como uma porcaria, é mentira. Não tem quem não faça isso. Tenho quase um paladar infantil, mas aprendi também a adaptar os meus gostos, então quando estou em casa adoro tomar um café da manhã bom, almoçar uma comidinha de casa ou voltar para comer em casa quando saio. Eu e o Diogo, apesar de gostarmos de sair, também gostamos de fazer um jantar em casa. Eu amo sopa como refeição, que não é muito normal. Coisas mais saudáveis são uma maravilha para mim. Então como toda vez que posso, até quando estou fora de casa.

E quanto a bebidas alcoólicas, você é adepta de uma cervejinha, um drink, vinho?

Minha amiga, eu gosto! [risos] E para quem gosta disso, a gente não tem fim, sabe? A gente vai tomar cerveja, tomar outra, toma outra, toma um vinho… Mas também estou bem controlada. O Diogo também gosta, então a gente bebe junto. Mas também gosto de bater um papo tomando um vinho branco, um espumante… São prazeres da vida, a comida e a bebida, principalmente para o brasileiro. Tudo que a gente faz é em torno disso. Festa, comemorações… Então são prazeres da vida que não dá para serem tirados, eles têm que ser só adaptados e cuidados.

Rotina de beleza

A atriz afirma que gosta de tudo que deixa a vida prática: “tenho creme para o rosto dois em um, 10 em 1, 3 em 1… Facilita a vida.”

Mas o foco é sempre em beleza natural. “Várias vezes fico pensando sobre isso, sobre essa beleza natural. A beleza natural é uma construção também, mas não tenho problema nenhum de que as pessoas me vejam sem maquiagem ou filtro. Eu me sinto bem, me sinto confortável. Vejo as mudanças, as linhas, sardas, pintas… Vejo meu corpo e meu rosto se transformando, mas sou bem confortável com isso.”

Isso não quer dizer que ela não faça alguns tratamentos pouco invasivos para se cuidar. “Uma tecnologia nova, laser… Eu uso tudo que está ao meu alcance para me sentir melhor, para envelhecer bem. É mais um privilégio, inclusive. Mas também posso falar que gosto tanto do combo que se criou hoje: percebo a diferença de texturas, as manchinhas que vêm, mas, internamente, consigo estar cada vez mais confortável com elas.

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(Marina Zabenzi/BOA FORMA)

Carreira

Passada a maratona de Carnaval, como que está sua vida profissional? Quais são seus próximos projetos?

Eu me dei um tempo. Tem “Justiça”, que é um projeto lindo que vai ao ar em 11 de abril. Tem algumas coisas, mas ainda estou recomeçando e vou me permitir isso. Essa coisa da maturidade que a gente conversou lá atrás… Ter calma, não precisar correr para ter novos projetos. Antigamente, quando me faziam uma pergunta assim eu ficava tensa, agoniada, “vou falar o que para ela?”, e agora tenho toda a calma do mundo para falar para você que ainda estamos analisando o que vou fazer da vida. Meu ano começou agora. “Falas Femininas” foi um projeto que aceitei depois do encerramento do contrato com a Globo. Não parece, mas temos essas quebras grandes na vida que nos colocam em cheque sobre como a gente vai ficar, quem sou eu, quais são as minhas raízes, quão importante sou na vida, como profissional, etc… E é bem interessante porque aí meu primeiro trabalho fora da Globo foi na própria Globo. O “Falas Femininas”, na minha opinião, é educativo. Eu apresento com a Taís e é um projeto de mulheres, com diretora e roteirista mulheres. Ele, inclusive, fala sobre como a mulher é chamada de louca há tanto tempo, fala sobre assédio, com experiências e situações que passamos todos os dias. Ser vista como essa mulher que representa e que pode a frente de outra grande mulher é junto com outra grande, à frente de um programa como esse que fala especificamente de assuntos que dizem respeito a nós mulheres. Eu fiquei muito feliz com o convite! Acho um programa interessante e educativo, e por isso se torna mais interessante ainda.

O que as pessoas podem esperar de você em 2024?

Primeiro: não espere muita coisa [risos]! É muito agonizante ter alguém esperando muita coisa da gente. Mas [esperem] uma Paolla do jeito que tenho vivido agora, com a sorte que tive de começar esse ano ativa, buscando um lugar cada vez mais sólido e confiante como mulher e também achando meus espaços de conforto nessa vida, para me envolver da melhor maneira possível. E muito trabalho, né? Adoro trabalhar, então acho que já já consigo falar: “Lembra que eu não tinha nada? Agora tenho”. Mas sem ansiedade para que isso aconteça.

Foto: Marina Zabenzi
Styling: Bruno Pimentel
Assistente de fotos: Fernando Bentes
Coordenadora de produção de moda: Juny Martins
Produção de moda: Roberta Freitas e Daniel Sampaio
Camareira: Camiê
Assistente de beleza: Júlia Boenoe com os produtos Dior Beauty, Keune Haircosmetics e Schwarzkopf
Retouch: Philipe Mortosa

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