Energia pessoal X tecnológica e nossa relação com os aparelhos

por Thais Valverde | Ilustração de Marcella Tamayo Atualizado em 2 jul 2020, 13h24 - Publicado em
2 jul 2020
07h00

Entenda como o uso de tecnologias afeta a sua saúde física e mental e como lidar com ela da melhor maneira durante e depois da pandemia

Em tempos de pandemia e isolamento social, estar conectado a internet e as demais tecnologias se tornou quase uma necessidade. De uma hora para outra, muitos tiveram que aderir ao trabalho remoto, adaptar rapidamente seus negócios para ambiente online, e passar a ter interações sociais via telas — quem diria que comemoraríamos tantos aniversários por videoconferências. Até quem não tinha o costume de usar muito o celular ou computador, se viu nesta nova situação.

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O uso da tecnologia impacta nossas vidas. Quem viveu no início da década de 1990,e pegou o grande boom da internet no Brasil certamente se lembra como era a vida antes de termos o universo digital em nossas mãos: éramos obrigados a decorar rotas, números telefônicos, fazer cálculos usando apenas as nossas funções cerebrais.

Agora, com o acesso à internet em smartphones, podemos conseguir, através de uma tela, desde atendimento médicos até serviços e informações simples e rápidas.

“Hoje, se você tem um aparelho com acesso à internet, você consegue manter ainda mais contato com as pessoas que você ama, o que é fundamental para controlar saúde mental e os efeitos do estresse do momento atual que estamos vivendo”

Janaína Brizante, neurocientista e diretora da Nielsen Neuro

Segundo dados da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), o uso da internet no Brasil cresceu durante a quarentena: o aumento foi entre 40% e 50%, e a alta foi ainda maior para servidores internacionais. Entretanto, como tudo na vida, o excesso de tecnologias e telas pode gerar comportamentos problemáticos em diversas áreas da nossa saúde, inclusive na saúde física.

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A parte ruim

Quando o uso das tecnologias se torna tóxico
Quando o uso das tecnologias se torna tóxico (Cottonbro/Pexels)

Se, mesmo em casa, você passa o tempo todo com o celular na mão, checa ele a cada 5 minutos, não consegue desligá-lo e, no meio de conversas reais, introduz o aparelho (“é só uma checadinha!”), é algo há se atentar.

Para Janaína, a tecnologia não é o problema, mas o uso que fazemos dela. “Smartphones, redes sociais, tudo isso é extremamente novo. O nosso sistema nervoso foi evoluindo ao longo de milhares de anos, e ele se desenvolveu com base nas interações reais, isto é, quando eu mostrava algo a alguém, ela não me dava um like, eu via a reação no rosto da pessoa de forma instantânea.” 

Sob o ponto de vista cerebral, uma das principais características dos dispositivos eletrônicos, como os celulares e tablets, é o acesso a um número ilimitados de notificações, dividindo o tempo todo nossa atenção – o que por sua vez pode diminuir a nossa capacidade de aprofundamento e concentração em uma única tarefa.

Existem diversos estudos relacionando o tempo de tela com depressão, ansiedade e distúrbios de sono.

“Distúrbios de imagens também podem ser facilmente relacionados ao excesso de uso de certos aplicativos, já que quando se posta uma foto está se construindo uma imagem sobre si para os outros, que muitas vezes não condiz com a realidade – o que a longo prazo pode trazer grandes problemas”

Valéria Duarte Garcia, educadora física e doutora em neurociências e comportamento
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Ainda está em discussão na ciência se o abuso de tecnológicas é caracterizado como uma patologia, mas entre especialistas, é unânime que o seu excesso pode desencadear outros transtornos psicológicos como ansiedade e depressão, principalmente em gerações mais novas e mulheres. “Cada vez mais, várias pesquisas afirmam que as redes sociais estão por trás do aumento do risco de depressão e suicídio, especialmente em mulheres. Pessoas que apresentam uma predisposição genética para transtornos mentais podem desencadear uma compulsão pelo uso da tecnologia”, explica a psicóloga Lucimara Braga.

Abuso da tecnologia: Como identificar quando é um problema

Segundo a psicóloga, podemos identificar que o abuso no uso de tecnologias está fazendo mal quando a funcionalidade da pessoa é prejudicada, ou seja, quando  percebe que as outras áreas da vida (profissional, social, afetiva) estão acarretando prejuízos. “É muito comum pessoas perderem o emprego pelo fato de usar indevidamente o computador do trabalho para jogar, assistir vídeos ou filmes, ouvir músicas. E também, é corriqueiro, com o uso excessivo, os compromissos e encontros sofrerem atrasos”, explica.

Lucimara, inclusive, observou uma mudança entre seus pacientes do final de março até agora. “Neste período de quarentena e distanciamento social, muitos pacientes estão realizando suas rotinas (estudos, trabalho, e interação social) em casa e através do uso da internet e redes sociais. Muitos, inclusive, relataram o aumento de acesso a filmes eróticos. Tenho notado que muitos aumentaram o uso das redes sociais e sentiram-se improdutivos.”

Smartphones, computadores e aplicativos têm algo em comum e que fazem muito bem: estímulos que literalmente sequestram a nossa atenção. “Quando aparece uma notificação no celular, essa informação é uma mudança no visual, e a retina tem células para identificar movimento, então você vai olhar. Normalmente é algo que te interessa e, consequentemente, você recebe uma injeção rápida de neurotransmissores que te dão uma sensação de bem-estar”, explica Janaína. Entretanto, um estudo recente feito por pesquisadores Universidade de Heidelberg, na Alemanha, mostrou que o uso compulsivo do celular pode causar diminuição da massa cinzenta do cérebro, mesma consequência provocada pelo abuso de cocaína e outras drogas.

Um estudo recente mostrou que o uso compulsivo do celular pode causar diminuição da massa cinzenta do cérebro, mesma consequência provocada pelo abuso de cocaína e outras drogas

As dicas a seguir servem para toda a vida, com o objetivo de ter uma relação mais saudável com as tecnologias. Mas, caso você apresente alguns dos critérios que a enquadrem em um indivíduo com “vício em internet”, é aconselhado a buscar apoio psicológico e de grupos de apoios existentes sobre o tema.

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Monitore o uso

Separe um horário para ler as notícias do celular, como você faria com jornal impresso
Separe um horário para ler as notícias do celular, como você faria com jornal impresso (Cottonbro/Pexels)

Segundo uma pesquisa do Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística (IBOPE), mais da metade da população brasileira não consegue ficar sem usar o celular durante um dia inteiro.

Antes do surgimentos dos smartphones e até dos computadores, as pessoas liam jornal, revistas, mas não faziam isso a cada 10 minutos, mas em um momento do dia. É importante determinar horários e objetivos no uso de celulares”, diz Janaína, que sugere que o uso seja dividido em períodos dos dia, como pela manhã, acessar notícias e e-mails, mais tarde, determine uma hora para acessar suas redes sociais. “Dê prioridade ao real. E, se não for algo urgente, segure a onda quando o WhatsApp piscar.”

Serviços como Facebook, Instagram e YouTube já permitem aos usuários o controle de seu tempo de uso do celular,  mesmo que parcialmente. Aplicativos como “Bem-estar digital” (Android), “StepLock” (Android) e “Freedom” (Android, iOS e Windows), podem te ajudar nesta missão.

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Para dormir, fique longe das telas

Não use telas duas horas antes de dormir e, se for necessário, use filtros de luz azul no aparelho. De acordo com estudos científicos, a exposição à luz azul, presente na tela do seu celular e tablet, representa uma séria ameaça aos neurônios retinais e inibe a secreção de melatonina, um hormônio que influencia os ritmos circadianos. A maioria dos sistemas de operacionais de smartphones e computadores já permitem ativar o filtro de luz azul, ajustando a tela de cor natural, o que pode proteger os seus olhos e ajudar a dormir com facilidade. 

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Desative as notificações

Você não precisa excluir todos os aplicativos de redes sociais, mas desativar as notificações já pode te ajudar bastante.

Para mudar isso, vá nas Configurações do seu aparelho e então no submenu “Notificações” e desative todos os alertas, à exceção daqueles que virão dos seus contatos, como WhatsApp, Messenger ou SMS (se você não use algum desses canais para trabalho ou mensagens urgentes, também pode deixar as notificações desativadas, se assim preferir).

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Aumente suas fontes de prazer

“A prática de atividade física e meditação tem impacto positivo no sistema nervoso central, auxiliando o indivíduo na manutenção de uma vida saudável, equilibrando inclusive os efeitos desta exposição tecnológica que estamos comumente adaptados”, afirma a educadora física e doutora em neurociências Valéria Duarte Garcia. Neste período de quarentena, busque aumentar suas fontes de prazer, com a prática de atividade física ou desenvolvendo habilidades novas. Existe vida fora da internet, explore-a mais!

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Conecte-se com a natureza

A natureza funciona como um verdadeiro para-brisa mental, limpando o nosso corpo e da alma. Em um estudo de 2016 chamado “30 Days Wild”, realizado pela Universidade de Derby, na Inglaterra, pesquisadores pediram a 12.400 participantes se envolvessem com a natureza todos os dias durante um mês. As sugestões incluem desde fazer um piquenique, abraçar uma árvore, plantar algumas sementes de flores silvestres, ficar acordado até tarde para ver as estrelas e procurar formas nas nuvens. Os resultados mostraram que simplesmente passar o tempo na natureza tem impactos positivos na saúde física, como redução da hipertensão e doenças respiratórias e cardiovasculares, além de melhora do humor e redução da ansiedade

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(Marcella Tamayo/BOA FORMA)
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Energia pessoal X tecnológica e nossa relação com os aparelhos

Essa matéria faz parte da edição de julho de BOA FORMA, que tem como tema Aumente sua Energia e conta com uma série de matérias sobre como melhorar sua disposição em todos os sentidos.

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