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Treino pode reduzir dores causadas pelo Parkinson, aponta estudo

Feito com ratos, o estudo realizado no ICB-USP mostrou que a rotina regular de treino pode reduzir dores causadas pelo Parkinson nos animais

Por Ana Paula Ferreira
2 ago 2023, 19h37

Diante de tantos benefícios já conhecidos das atividades físicas, mais um foi descoberto recentemente. Segundo um estudo feito em São Paulo, o treino pode reduzir dores causadas pelo Parkinson.

Realizada pelo Laboratório de Neuroanatomia Funcional da Dor do Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo (ICB-USP), em parceria com o Laboratório de Neurociências do Hospital Sírio Libanês, a pesquisa concluiu que exercícios aeróbicos podem contribuir para a redução das dores orofaciais, localizadas na cavidade oral e na face. Saiba mais!

Estudo sugere que o treino pode reduzir dores causadas pelo Parkinson

De acordo com o experimento publicado na revista Neurotoxicity Research, os pesquisadores induziram a doença em ratos por meio da injeção da 6-hidroxidopamina, substância que causa a perda de neurônios dopaminérgicos, principal característica da Doença de Parkinson. Depois, foi realizado o tratamento no qual os animais foram colocados em esteiras de exercício durante cinco semanas, três vezes por semana.

Para medir o comportamento da dor, os pesquisadores utilizaram um método chamado de filamentos de Von Frey, onde filamentos de várias espessuras são aplicados na face do animal com diferentes intensidades de força. Quanto menor a espessura dos filamentos que causam desconforto, mais sensível os ratos estão à dor.

O grupo observou então que, após o tratamento, a expressão dos marcadores relacionados à dor diminuiu, mantendo os roedores com o mesmo comportamento dos animais livres da doença.

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Efeitos dos testes nas dores causadas pelo Parkinson

A doença de Parkinson é, além de neurodegenerativa, inflamatória. Os sintomas são divididos em dois grandes grupos: motores, aqueles relacionados a movimentos, como tremores; e os não-motores, que podem incluir dor, depressão, distúrbios de sono e outros.

Segundo Daniel de Oliveira Martins, autor do estudo, essa última categoria só ganhou maior atenção recentemente. “Antigamente a dor do paciente com Parkinson era confundida com aquela dor própria da idade avançada, já que a doença possui maior incidência em pessoas acima de 60 anos”.

Além do impacto na expressão dos marcadores, os pesquisadores também observaram os efeitos da desativação dos receptores de canabinóides nos animais, que, quando inativados por meio do uso de fármacos, contribuíram para que a dor retornasse, desaparecendo novamente com a retomada de exercícios.

“Devido a todos os estudos recentes com cannabis, resolvemos também testar os receptores de canabinóides nesse modelo. Os resultados mostram uma possível correlação entre os receptores e o mecanismo de dor orofacial no Parkinson, o que pode ser útil para o desenvolvimento de novas terapias”, afirma a professora Marucia Chacur, coordenadora do laboratório e coautora da pesquisa.

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Os treinos podem substituir medicações no futuro?

O estudo é mais um indicativo dos benefícios do exercício físico, reduzindo a necessidade de medicação. A recomendação, contudo, depende da individualidade de cada paciente e dos problemas que o acometem.

“A doença de Parkinson possui uma variedade muito grande de sintomas que se manifestam nos pacientes de maneiras diferentes. Para algumas pessoas, o exercício físico é muito benéfico, mas não é o caso de todos”, explica Martins.

No futuro, Chacur aponta que há outros caminhos a serem explorados. A pesquisa, que possui financiamento da Fapesp, deverá continuar em outras frentes, analisando a dor em outras regiões do corpo e outros mecanismos fisiológicos, não só relacionados ao movimento, como os associados ao calor e ao frio.

“Tem uma parte desse trabalho com enfoque na dor neuropática — causada por danos aos nervos sensitivos do sistema nervoso central ou periférico — nos membros inferiores. É importante, pois o paciente tem dores generalizadas no corpo, muitas vezes justamente pela rigidez nos membros superiores”, explica.

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