Marina Sena: confiança dentro e fora dos palcos
Dona do hit “Por Supuesto”, a cantora conta à Boa Forma como a autoconfiança a ajudou a alcançar o sucesso meteórico
Marina Sena se tornou, em pouco tempo, um dos nomes mais relevantes do cenário musical brasileiro ao alcançar um sucesso meteórico. E é difícil negar que, entre os motivos para tamanho sucesso, está a confiança que ela tem em si.
No dia em que nos conhecemos, a dona do hit “Por Supuesto” chegou de “mansinho”, cumprimentando um a um todos que estavam no estúdio do shooting. Não demorou, contudo, para que a entrevista começasse a fluir de forma que se transformasse em uma conversa leve e sincera, com direito a risadas e bastante identificação, uma vez que suas falas me conduziram a boas reflexões, especialmente ao falar sobre empoderamento, autoestima e autoconfiança.
Atualmente com 26 anos, a artista mostra que a atitude nos palcos não faz parte apenas de seu lado artístico, mas também da Marina Sena nascida em Taiobeiras, cidadezinha do interior de Minas Gerais, que por volta dos 18 anos descobriu sua potência como mulher.
A seguir, você confere nossa conversa!
Beleza e autoestima
Outro dia você foi parar nos TT’s do Twitter porque as pessoas estavam discutindo sua beleza e você entrou na conversa para se posicionar. Você se considera bonita?
Eu me considero uma mulher bonita. Sempre fui bonita, mas acho que demorei a entender minha estética, o que é que me faz bonita. Beleza é posicionamento, é você encontrar seu estilo, encontrar seus ângulos, qual é o cabelo que tem a ver com você, qual é a maquiagem que cai bem em você, a roupa que cai bem… Hoje em dia eu sinto que as pessoas me consideram mais uma mulher bonita. Antes não era tão assim, das pessoas falarem. A beleza não era o foco da coisa toda, entendeu? Mas sempre fui bonita assim, sempre tive meu sex appeal. Sempre tive um “negócio”, mas hoje em dia acho que encontrei mais isso. Eu tinha dificuldade de, por exemplo, maquiar e ficar parecendo que eu não era eu. Não gosto de olhar no espelho e não me identificar com aquilo que estou vendo. Então, até eu encontrar a maquiagem que dá certo para mim, foi um processo. Hoje em dia a gente chegou nesse ponto, mas sempre melhora, né?
Quanto a essa sensualidade que você traz consigo, é algo seu ou que nasceu quando você ficou famosa?
Eu acho que começou na época que saí de Taiobeiras, fui para Montes Claros e fiz A Outra Banda da Lua, quando eu tinha 18 anos. Ali que eu falei: “Caralh*, eu sou muito gostosa!”. Eu não tinha essa noção. Porque tem isso, né? Posicionamento, empoderamento. Quando você chega chegando é outra coisa, é postura, posicionamento. Aí, quando eu realmente engatei nessa coisa de ser artista, foi um poder que me foi dado. Eu subi no palco e vi que era muito corajosa naquele espaço. E quanto mais gente tivesse, menos tímida eu tava, mais eu gostava daquele desafio, de estar ali me expondo pra muitas pessoas. Isso me trouxe poder, autoestima.
Como é a sua relação com seu corpo? Você fica à vontade mostrando pele no palco, nos shootings?
Tenho uma boa relação com o meu corpo. Sempre me senti à vontade, desde criança. Colocou a câmera na frente eu já tava lá: “Oi!”. [risos]
“Todo dia, quando acordo, eu faço skincare. Eu tenho produtos manipulados que meu dermatologista passou. São cinco produtos: primeiro lavo a pele, depois passo um tônico com algodão, um sérum, um creme hidratante e, depois, o [creme] da olheira. Tenho muita olheira e é uma coisa que tenho que ficar cuidando. Cuido em casa com creme.
Acho que o segredo de uma beleza também tem a ver com você cuidar de você. Sempre falo assim: ‘Gente, tá com a autoestima baixa? Faz uma skincare, coloca um biquíni, toma um sol… Depois você me conta’. Eu acho que são coisas que qualquer ser humano tem que fazer – homem, mulher, todo mundo. Cuidar da pele, tomar bastante água – água é excepcional! –, se alimentar de coisas nutritivas e tomar sol. Isso aí eu acho que já resolve a maior parte dos problemas, sinceramente [risos].
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Cuidados para o bem-estar
O que é bem-estar pra você?
Eu acho que é dormir direito, tomar bastante água, suco, água de coco, [comer] saladas, coisa fresca. Eu sou apaixonada por coisa fresca desde criança. Sempre gostei de comer besteira, mas, em contrapartida, sempre fui de comer muita salada. A briga na minha casa era porque eu comia toda a salada. Tem dia que eu não consigo comer nada que foi no fogo, só coisa fresca. É até ruim, às vezes, né? Tem que comer uma coisa com mais sustância. Mas gosto muito de comer salada, fruta… E escutar música boa, transar direito, ter a vida sexual equilibrada. Importante também!
E você se exercita? Gosta de fazer atividade física?
Gostar eu não gosto. Por mim, eu ficava o dia inteiro deitada. Mas, assim, tem que fazer, né? Não tem jeito. Aí eu faço musculação, mas quando dá também. Tem vezes que fico um mês sem malhar, outras que malho uma vez a cada 15 dias, outras que malho a semana inteira… Só que sou muito preguiçosa. Na hora que meu personal chega lá em casa, eu já falo: “Ai, meu Deus, vamos hoje não. Vamos desistir”. Se ele não for lá na minha casa, me tirar da cama e falar “vamos malhar”, eu jamais seria capaz de levantar sozinha. Basicamente, eu malho porque eu estou pagando e não vou desperdiçar esse dinheiro. É o truque. Funciona.
Com essa rotina corrida, sobra tempo pra você cuidar da sua saúde mental?
Eu faço terapia, mas quando dá. Uma vez a cada dez dias, pelo menos, eu faço. E eu amo, acho que é essencial para eu chegar em várias conclusões, sabe? Sobre mim, meu comportamento, o que me afeta no comportamento dos outros, por que me afeta, por que eu sinto o que eu sinto… Acho que é muito importante inclusive para a autoestima também. Eu já fiz vários tipos de terapia e sinto que elas me fizeram ter um poder tão grande sobre o que eu conheço de mim, que aí poucas coisas abalam a autoestima. Tem que ser muito pesado para abalar, sabe? E quando abala, você já entende por que. Terapia é tudo, né?
Marina fora dos palcos
O que você gosta de fazer quando não está trabalhando?
Gosto de jogar videogame. Eu sou meio nerd de tudo. Quando me envolvo com uma coisa, eu quero entender tudo. Então se vou entrar no mundo gamer, quero viver como um gamer vive. Quero viver intensamente, conhecer não só o superficial da coisa, conhecer profundamente. Também jogo buraco, gosto de dançar, curtir com os meus amigos, ir pra role, ver filme, série…
Como é o seu role? Agora que as pessoas te conhecem, você gosta de sair ou prefere fazer algo em casa?
Os dois. Mas, pra sair, hoje em dia já é um pouco mais complicado, mas ainda assim rola. Tipo, você vai num lugar e já conversa com quem é o dono de lá, quem está gerenciando, para achar um lugar mais recluso, para também não ficarem tirando 300 mil fotos. Eu gosto também de tirar foto, tá? Mas, às vezes, você está dançando e a pessoa te para pra pedir foto. Mas tudo bem também, passa rápido, porque eu quero isso, eu adoro. Não acho ruim, não.
Você sente falta de alguma coisa diante da fama?
Eu sinto falta de tempo. Acho que é a coisa que eu mais sinto falta. Eu gostava muito de fazer nada, sabe? De ter um momento sem pretensão alguma, coisa que nunca mais aconteceu depois que eu fiquei famosa. Hoje em dia, se eu tenho um dia [de folga], eu preciso descansar. Eu vou escolher: Vou descansar? Vou fazer uma música? Vou para festa? Vou dormir? Vou assistir um filme? Porque tudo não dá. Vou ter que escolher uma dessas coisas. O tempo me faz falta.
Foi tudo tão rápido [sua ascensão à fama], né? Como você lidou com isso?
Eu tinha mais liberdade para me expor antes, podia fazer qualquer coisa, ninguém estava nem aí pra nada. Agora tenho que ter mais cuidado, porque tudo está sendo observado. Mas tudo bem também. Ossos do ofício, né? Eu não tenho problema com exposição.
Qual é, para você, a melhor parte de ter ficado famosa?
A melhor é que eu sempre quis cantar para muitas pessoas. Eu não gosto de cantar para pouca gente. Vou fazer o mesmo show se tiver três pessoas, vinte mil ou trinta mil… Porque eu gosto de fazer show, gosto de me entregar ali e não vou fazer nada meia boca. Mas, quando eu canto para muitas pessoas, quando tem muita gente… Meu Deus, isso me dá um fogo! E é como se eu estivesse sozinha, como se estivesse no meu quarto. Eu fico mais íntima, mais confortável quando tem muita gente. Então, se tiver três pessoas, eu até fico um pouco mais tímida.
A nova fase de solteira
Às vezes as pessoas se assustam com uma mulher forte, famosa, que está lá no topo, põe o corpo para jogo… Ficou mais difícil pra você se relacionar depois da fama? Para beijar na boca, ter um relacionamento?
Olha, não sei. Acabei de ficar solteira, tem [1 mês do momento dessa publicação]. Então eu não sei exatamente como é. Eu comecei a namorar quando não era famosa e terminei agora, então toda a minha história foi construída enquanto eu estava no relacionamento. Estava ótimo, zero problema. Mas Yuri [Rio Branco] é… Yuri, né? Ele é acostumado a conviver com mulheres muito livres, muito maravilhosas. Então, para ele, isso não é nenhum problema. Mas não sei como é que são os outros. Eu posso falar de um só, por enquanto.
E como é que você está para essa nova fase?
Solteira? Ai, cheia de vida, né? [risos] Eu acho que a vida é isso, são fases, momentos. No momento que eu estive namorando, eu aproveitei demais! A gente curtiu muito. Meu Deus do céu, como a gente aproveitou, 100% de aproveitamento! Mas agora é isso, é outro momento. Vamos ver como é que vai ser. Eu não sei o que falar sobre isso. É novo.
Você acha que essa sua nova fase vai render trabalhos?
Com certeza, com certeza eu vou. Vem “ni mim”… Quem quiser ser inspiração de música, vem em mim que a mãe dá um trato e ainda faz música! [risos]
Ocupando os espaços como mulher
Você se apresentou recentemente no João Roque, que é um festival que, antigamente, tinha quase todo o line-up masculino, e que vem dando mais espaço e atenção para as vozes femininas. Como você se sente fazendo parte dessa movimentação, subindo no palco de um festival que, antes, era só com artistas homens?
Olha, eu acho que a falta de tempo também faz você não observar certas coisas. Eu não tinha notado que tinha isso, que tinha esse peso, essa responsabilidade. Mas eu faço tudo de uma forma muito natural. Eu falo: “Gente, se eu não estiver aí, pelo amor de Deus, né? Música boa, show bom, dança, canta, faz tudo. Por que não me contratar? Por que eu não estaria aí? Tem algum motivo para eu não estar?”. Então, eu reivindico dessa forma muito natural mesmo. Muito assim: “Gente, não tem por que eu não estar aqui, né? Concordamos?”. Chego e simplesmente me coloco. Mas eu acho que está rolando esse movimento em geral, né? No Brasil, de todos os festivais… Agora mesmo o Rock the Mountain vai ter um line-up inteiro feminino, o que é muito foda. As pessoas estão percebendo que não tem mais como não ter [mulheres], né? Não tem porque não ter, não tem como não ter, sabe? É a gente que está tocando na rádio, a gente que está tocando no seu celular… É a gente que tem que estar lá. Então, acho que é um movimento natural que está acontecendo. E que bom que está acontecendo. E que bom que eu estou fazendo parte desse momento.
Quando você escreve a música, quais são suas inspirações?
São minhas relações. Normalmente, relação amorosa é o que me inspira a escrever, só que não exatamente a relação, mas sim o que eu sinto sobre aquela situação, como ela mexe comigo, como me senti quando saí daquela situação, como me sinto quando vou atrás de você. Eu sou hétero, né? Então, com essa coisa de me relacionar com homens, preciso tomar posse dessa narrativa. Porque já é uma relação complicada, já nasce complicada. Então, se você não toma posse mesmo da narrativa, você deixa tudo sobre o controle do homem ali o tempo inteiro. Ele controla quando quer te ver, quando quer te ligar, quando você vai avançar na relação ou não… Ele que está controlando ali, ele tem o termômetro de tudo, de toda situação. E o meu movimento é exatamente de tomar posse do negócio. Eu não espero o cara chegar em mim. Eu não espero ele me pedir em namoro. Eu falo: “Então, estamos namorando, né? Porque se isso aqui não for namoro pra você, meu filho, eu estou saindo fora”. Eu sou bem direta, não gosto de homem que fica fazendo “a sonsa”, sabe? Não faz isso, porque eu estou percebendo. Não adianta vir de esperto, Porque eu estou vendo a movimentação. E homem se faz muito de sonsa, né? Eu fico chocada o tanto que homem se faz de sonsa. Então eu não deixo ninguém tomar posse. Se o cara começar a achar que ele está tomando posse, eu já começo: “Ah, é? Então, peraí, agora você vai tomar um vácuo de um mês. Pra você ver quem é que está no controle!”.
Além de Gal Costa, que você sempre aponta, tem alguma outra pessoa que te inspira?
A Anitta me inspira muito. Eu amo ela, véi. Eu ainda estou saindo desse estágio de fã para amiga, porque eu sou muito fã. Mas ela é uma cantora que me inspira muito. Toda a trajetória dela artística, acho ela muito criativa. Rosalia, Alicia Keys, Rihanna, Elsa Soares, Elis Regina, Rita Lee, Luísa Sonza, Ludmilla. Nossa, são tanta…
Você lançou recentemente o álbum “Vício Inerente”. Agora, quais são seus próximos passos?
Agora é continuar divulgando esse disco. Vou fazer shows desse disco e lançar uns clipes dele, continuar na comunicação dele e fazer turnê… Fazer muitos shows no Brasil e no mundo. Vou fazer o [festival] Primavera Sound Brasil, Buenos Aires e Bogotá. Vai ser tudo!
Sonho de vida
Qual seu maior sonho e seu maior medo?
Meu maior sonho é sempre ter todo o aparato necessário para conseguir continuar fazendo o que eu faço de melhor, que é a arte. Então, que eu sempre tenha como me desenvolver artisticamente, que essa fonte nunca seque. Que eu sempre tenha todo o aparato necessário, financeiro e de equipe, de mentes criativas e tudo mais, e que minha mente também sempre esteja criativa para poder indicar o caminho. E o maior medo? Meu maior medo é a fonte esgotar.
Realização: Larissa Serpa
Foto: Julia Rodrigues
Assistente de fotografia: Duda Gulman
Styling: Leandro Porto
Coordenadora de produção: Maria Antonia Valladares
Produtor de moda: Rafael Tatsuo
Camareira: Camila da Silva
Beleza: Sasa Ferreira
Direção de arte: Kareen Sayuri