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O que é o 75 hard challenge, o desafio que promete “mudar a sua vida”

O objetivo do desafio é seguir uma série de regras para gerar uma mudança de corpo e mente

Por Marcela De Mingo
Atualizado em 13 out 2023, 13h36 - Publicado em 3 set 2022, 08h00

Você provavelmente já está careca de saber que a internet adora um desafio, certo? E um dos mais recentes a ganhar popularidade nas redes sociais também tem gerado polêmica: é o chamado 75 hard challenge

O QUE É O DESAFIO 75 HARD?

O desafio consiste em uma série de regras, desenvolvidas pelo palestrante Andy Frisella – que, importante notar, não é um profissional de saúde formado ou tem qualquer experiência como personal trainer – com objetivo de “desenvolver a força mental” dos participantes, assim como “mudar as suas vidas”. 

Mas como fazer o desafio de 75 dias? Na prática, o 75 hard challenge consiste em seguir as regras abaixo por exatos 75 dias: 
  • Escolher uma única dieta para seguir firmemente pelo período. 
  • Cortar o álcool ou “refeições livres” (por exemplo: permitir-se uma noite de pizza depois de seguir a dieta corretamente a semana inteira).
  • Tirar fotos do seu progresso todos os dias.
  • Tomar 3 litros de água todos os dias.
  • Completar dois treinos de 45 minutos por dia, sendo que um deles deve ser feito ao ar livre.
  • Ler 10 páginas de um livro motivacional ou de auto-ajuda por dia.   

A questão é seguir todas as regras religiosamente até o final dos 75 dias, caso contrário, se você quebrar qualquer uma delas (por exemplo, tomar só dois litros de água ou esquecer de tirar a foto do dia), você deve começar o desafio novamente, do zero. 

ROTINAS EXTREMAS E DIETAS RESTRITIVAS: POR QUE EVITAR?

Antes de falarmos especificamente do desafio 75 hard, é importante lembrarmos porque manter uma rotina saudável, com exercícios físicos e alimentação adequada, é importante. 

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“Praticar atividade física diariamente e manter uma alimentação saudável são dois pilares fundamentais para viver mais, e com mais saúde”, explica Giselle Felix, fisioterapeuta e especialista em bem-estar da WinSocial. “As doenças crônicas e a morte prematura estão diretamente relacionadas a fatores de risco como o sedentarismo e a má alimentação.”

Isso, no entanto, não significa levar a rotina saudável (ou não saudável) a extremos, como muitos desafios incentivam e estimulam, internet à fora. Cortar alimentos do dia para a noite, sem acompanhamento nutricional, levar o corpo à exaustão e outros comportamentos que são destrutivos, mas, muitas vezes, são mascarados como saudáveis, podem gerar um efeito rebote bastante complicado. 

E, para a profissional, as rotinas extremas são prejudiciais também porque levam a pessoa a um círculo vicioso de frustração e tristeza. “Essa restrição gera desejo proibido, que leva o indivíduo ao conhecido ‘pé na jaca’, compensando com exagero”, explica ela. “Como resultado, vem a culpa, o ganho de peso. Este é o típico ciclo do efeito sanfona, por exemplo: o sentimento de insatisfação corporal retorna, e como punição, o indivíduo busca mais uma vez, pela restrição alimentar, pela rotina extrema, que o levará de volta ao sofrimento. O corpo e a mente precisam passar por um processo de aprendizado para que a mudança seja duradoura e se mantenha, por isso as rotinas extremas e as muito restritivas não são recomendadas.”

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O 75 HARD CHALLENGE É SEGURO?

Segundo a profissional, existe sempre algo a aprender com desafios como o 75 hard challenge. Métodos como esse, diz a fisio, possuem um processo educativo com regras claras a seguir, o que é fundamental quando falamos de hábitos e do comportamento humano. 

“As pessoas, de forma geral, têm dificuldades de manter uma rotina saudável por não terem disciplina para tal”, explica. “Propor uma intervenção no estilo de vida é uma tarefa que requer determinação e foco do indivíduo. Um componente importante do 75 hard challenge, e de outros desafios, é educar o indivíduo a estabelecer metas claras para alcance do seu objetivo, e um prazo para cumprir.”

Por outro lado, existe uma questão importante: muitas vezes, esses desafios não respeitam a individualidade biológica das pessoas, e existe um risco grave dos participantes se proporem a uma atividade contraindicada ou que vai na contramão dos seus objetivos. 

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“Quando falamos de condicionamento físico, é importante considerar um tempo de descanso entre as sessões de treinamento para recuperação da musculatura”, diz Giselle. “Se o objetivo for este, é importante buscar orientação com um profissional especializado para definição do plano de treino ideal. Além disso, no caso do 75 hard challenge, por falta de orientação profissional adequada, o participante pode fazer uma opção de dieta que traga prejuízos à sua saúde.”

A fisioterapeuta explica que como um dos pilares do desafio é manter a mesma dieta pelos 75 dias, é preciso alertar sobre a necessidade de elaboração de um plano alimentar personalizado – o que só pode ser alcançado com a ajuda de um profissional. 

“Outra lacuna do 75 hard challenge é o lema ‘ou tudo, ou nada’ que o desafio impõe. Mesmo quem não alcançou a integralidade da proposta, e por algum motivo não completou os 75 dias consecutivos, precisa enxergar os ganhos e não só o fracasso. Isso é importante para a autoeficácia da pessoa, para que ela se sinta capaz de retomar de onde parou, e tentar o sucesso mais uma vez. A mensagem que fica, entretanto, é que todo o esforço foi nulo e nada é aproveitável. Construir a autoeficácia é fundamental quando trabalhamos com mudança de comportamento humano”, elabora. 

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COMO SABER OS LIMITES DO MEU CORPO?

Outro ponto essencial do desafio, já explanado por Giselle, é a falta de consideração do 75 hard challenge sobre as individualidades dos participantes. Por isso, cabe a cada um compreender em que ponto está o limite do seu corpo, seja em relação à alimentação, seja em relação à atividade física. 

“O autoconhecimento é um fator importantíssimo nessa proposta de autocuidado”, diz. “A proposta de treinar por conta própria requer conhecer seus limites e limitações. É preciso estar atento aos sinais que o corpo dá, saber diferenciar a dor de uma possível lesão, que requer cuidados médicos e repouso, daquele desconforto resultante de um treino intenso.” 

Para Giselle, evitar excessos, aumentar a intensidade gradativamente e fazer o caminho inverso para investigar os porquês (Por que estou sentindo isso? Quando começou? O que fiz de diferente? A última vez que me senti assim, o que aconteceu comigo? Já me senti assim antes? O quanto excedi o meu treino normal?) é um caminho importante a ser traçado. 

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Além disso, existem outros aspectos dos sinais vitais que impactam no desempenho, como o sono, a alimentação, mal-estar e humor, que podem fazer com que o seu limiar naquele dia esteja alterado.   

Fora isso, é importante ainda considerar a importância do descanso para o corpo, intercalando dias de atividade física com outros de relaxamento. 

“É na fase de descanso, que a musculatura se regenera do dano causado pelo exercício físico. Essas microlesões das fibras musculares são necessárias e desejadas, pois é justamente através dessa mecânica que acontece a produção de um maior volume de massa muscular. No descanso, o músculo se reconstrói e recupera, aumenta de volume e se fortalece”, finaliza.    

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