Conheça Jaki Valente, única brasileira que compete no high diving
A gaúcha de 31 anos está se destacando na modalidade em que atletas saltam a 20 metros de altura
Entre 2009 e 2010, quando trabalhava em Macau, na China, na companhia de circo Dragone, Jacqueline Valente arrancava aplausos da plateia fazendo saltos no ar depois de ser lançada pela maca russa, uma espécie de balança. A performance da gaúcha – que praticou ginástica artística durante toda a infância e a adolescência – chamou a atenção de seus colegas circenses, que viram o talento dela para praticar saltos ornamentais em grandes alturas. “Mas eu não achei uma boa ideia porque tinha medo”, relembra Jaki, como costuma ser chamada, em entrevista a BOA FORMA.
Em 2012, porém, ela criou coragem e fez seu primeiro salto no high diving, modalidade em que o atleta pula de um local a 20 metros de altura, no mínimo. Para ter ideia, nos saltos ornamentais as pessoas pulam a, no máximo, 10 metros! A adrenalina do esporte conquistou Jaki, mas em 2013 uma lesão no joelho a impediu de continuar praticando. Foi nessa época também que a Red Bull convidou a brasileira para o Red Bull Cliff Diving, campeonato em que homens e mulheres saltam de pontes, pedras e penhascos em cenários exuberantes enquanto executam acrobacias em queda livre.
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Jacqueline só se recuperou no ano seguinte, em 2014, quando participou de sua primeira competição no high diving. Desde então, evoluiu muito. No último dia 23 de julho, ela ficou em segundo lugar na edição de 2017 do Red Bull Cliff Diving, que aconteceu em Polignano a Mare, na Itália, sendo a primeira brasileira a conquistar uma medalha nesse esporte. Nesta sexta (28), é a única representante do nosso país na modalidade no Campeonato Mundial de Esportes Aquáticos, que está rolando em Budapeste, na Hungria.
No bate-papo que fizemos com ela por telefone, Jaki falou sobre a experiência de praticar high diving, representatividade feminina no esporte e como ele vem ganhando espaço mundo afora:
BOA FORMA: Quais foram os lugares mais incríveis de que você já saltou?
JAKI VALENTE: Para falar a verdade, todos são incríveis. O primeiro salto foi no Possum Kingdom Lake, um lago no Texas, nos EUA. Me senti superemocionada. O segundo foi na Noruega, o local tinha montanhas ao redor, um monte de barco assistindo… A terceira vez foi no México, saltamos dentro de um cenote [espécie de piscina natural de águas azuis e cristalinas que vêm de rios subterrâneos da península de Yucatán, no sul do país], uma das maiores belezas naturais do mundo. Cada lugar tem um toque especial que o torna único. Você acaba conhecendo toda a cultura do país – a comida, as pessoas, o idioma…
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B.F.: Quais são as diferenças do high diving para os saltos ornamentais?
J.V.: Em primeiro lugar a altura: nos saltos ornamentais, a plataforma é de 10 metros; a nossa, de 20. E, dependendo da localização, pode ser até mais – em Budapeste serão 20,2 metros; na Itália foram 21,7. Além disso, a gente salta ao ar livre e entra na água de pé, e não de cabeça, porque o impacto quando você cai de cabeça é muito grande e pode machucar ombros, punhos, pescoço… Outra diferença é que bem menos pessoas praticam esse esporte.
B.F.: Você foi a única brasileira na última edição do Red Bull Cliff Diving. Há poucos atletas especializados na modalidade por aqui?
J.V.: De mulher, não tem mais nenhuma brasileira que pratica isso, só eu. De homem, há alguns, mas nenhum conseguiu ficar tão próximo do pódio quanto eu.
B.F.: E como é a participação das mulheres no high diving ao redor do mundo?
J.V.: No momento, com nível profissional, somos em torno de 12 mulheres competindo. Tem americanas, mexicana, alemã, inglesa, australiana… Já o número de homens é bem maior – mais que o dobro, que o triplo!
B.F.: O high diving está crescendo?
J.V.: Sim, bastante. Estão até tentando incluí-lo nas Olimpíadas. Estão criando centros de treinamento. Na Áustria, por exemplo, tem um lugar chamado Area 47, que conta com uma plataforma que funciona como um elevador que sobe entre 10 e 20 metros. Dá para saltar da altura que você quiser. Na Inglaterra também montaram uma plataforma e outros países querem construir lugares para mais gente praticar. Geralmente, nossos treinos são iguais aos de saltos ornamentais, em plataformas de 5, 7 e 10 metros. Só na hora da competição vamos para 20 metros. Por isso é um esporte que requer muita preparação mental também.
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B.F.: Você acha que tem espaço para isso no Brasil?
J.V.: O Brasil tem potencial pra muitas coisas – tanto para competições quanto para centros de treinamento. O problema é que, como não é futebol, o pessoal não demonstra muito interesse.
B.F.: Como é seu treino?
J.V.: No momento, estou trabalhando no maior cruzeiro do mundo, o Harmony of the Seas, da Royal Caribbean. Lá, faço shows em que salto de 17 metros de altura, durante cinco dias na semana, então não tenho tempo pra treinar. A cada dia, tenho 15 minutos de aquecimento e esse é o tempo que treino na piscina. Fora isso, não sou muito fã de musculação. Sempre fui mais de fazer esporte. Gosto de dançar, praticar ioga, acroioga, alongamento… De vez em quando dou uma corridinha, mas muito de leve.
B.F.: E sua rotina alimentar?
J.V.: Não tenho uma dieta específica. Tento não abusar, mas como de tudo. Sou uma pessoa normal: como hambúrguer, pizza, tomo cerveja e vinho quando quero. Não sou rígida. Afinal de contas, todo atleta é ser humano e, quanto mais você se restringe, mais frustrado pode ficar.
B.F.: Tem algum outro esporte radical que você ama?
J.V.: Me apaixonei recentemente pelo skydiving, que pratiquei no início de julho na Playa del Carmen, no México. Achei demais! Pretendo fazer de novo daqui a algumas semanas.
B.F.: O que você pensa quando está saltando?
J.V.: Durante o salto não passa nada pela cabeça, porque dura três segundos. Mas quando piso na plataforma, sou eu e eu. Não tem mais ninguém, não tem vida particular, problema… Por mais horrorosa que a vida esteja, naquele momento sou só eu, e meus pensamentos são fazer uma saída boa, lançar o braço rápido, estender o joelho… Penso em todos os detalhes do salto e me imagino voando e entrando na água. Eu nunca tive um ritual, mas fiz uma sequência de pulinhos e palmas nessa última prova na Itália e deu certo. Vou continuar.
B.F.: E o que passa na sua cabeça quando mergulha na água?
J.V.: É uma sensação muito boa, uma adrenalina, que faz você pensar “vou de novo”.
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