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Krav maga: por que toda mulher deveria saber se defender

Nossa repórter conheceu a técnica israelense de defesa pessoal e conta sua experiência

Por Luiza Monteiro
Atualizado em 25 mar 2018, 20h17 - Publicado em 23 mar 2018, 17h41

“Você já foi assaltada? Algum cara puxou seu braço na balada? Foi atacada?”. Quem me fez essas perguntas foi Roberta de Lima, 46 anos, que pratica krav maga desde 2010. Respondi “não” para tudo. “Nossa, que pessoa abençoada”, concluiu Roberta.

Não posso discordar. Nasci e cresci em São Paulo, cidade onde, só nos dois primeiros meses de 2018, mulheres denunciaram 1 771 lesões corporais, 1 442 episódios de ameaças e 35 estupros consumados, segundo a Secretaria de Segurança Pública do estado. Sem contar os relatos diários divulgados na imprensa e nas redes sociais sobre casos de assédio e outros crimes contra a integridade feminina. É assustador.

A fim de ajudar as vítimas a se defenderem em situações como essas, a Federação Sul-Americana de Krav Maga (FSAKM) promove, desde 1993, ações especiais pelo Brasil. Até 2017, a iniciativa era feita sempre no dia 8 de março, quando se comemora o Dia Internacional da Mulher; neste ano, porém, o mês todo é dedicado a nós com sessões gratuitas da técnica israelense de defesa pessoal.

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Para saber um pouco mais sobre como o krav maga pode ser útil à mulherada, fiz dois treinos. É pouco diante da complexidade do método, mas já deu para entender que, apesar de ser difícil, tem muito a nos oferecer.

Não é esporte, é defesa pessoal

Afinal, o que é krav maga? “Uma arte de defesa pessoal, a única técnica que não é arte marcial reconhecida exclusivamente para esse fim”, afirma Kobi Lichtenstein, o Mestre Kobi, introdutor do método no Brasil e fundador da FSAKM. Para quem acha a força um requisito primordial, saiba que a ideia é “atacar” o inimigo em áreas sensíveis, como olhos e genitais. Então, mesmo que um homem mais alto e forte aborde você, dá para aplicar os golpes certos – se tiver experiência, claro, já que estamos falando de sobrevivência. Nada de reagir sem dominar a prática.

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Por não ser uma modalidade esportiva, o foco não é competir. “Daí porque todo mundo pode fazer krav maga e ter resultados”, garante Kobi. Queimar calorias e definir músculos tampouco é uma prioridade – mas dá para suar nos 60 minutos de treino e ficar (bem) dolorida!

O sistema de graduação por faixas, semelhante ao das lutas, tem como objetivo apenas mostrar o quanto o aluno está progredindo. O ensino se divide em duas partes: na que vai da faixa branca à azul (passando por amarela, laranja e verde), aprende-se técnicas de defesa pessoal; na marrom e na preta, são passadas estratégias de combate militar e exercícios mais complexos.

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A repórter Luiza Monteiro treina como reagir em casos de roubos de bolsa.

Como funciona o treino

No início, é feito um aquecimento que inclui corrida, deslocamento lateral, chutes no ar, abdominais e flexões. “A ideia é trabalhar coordenação, resistência, equilíbrio…”, explica Mestre Kobi. Depois, vem a parte prática: o passo a passo dos golpes. Tudo com base em situações reais, como no caso de alguém tentar roubar bolsa, pulseira, colar ou mesmo quando algum indivíduo se aproximar de você segurando seu cabelo, sua roupa ou seu corpo.

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Pela minha experiência de quem nunca fez arte marcial na vida, achei bem complicado. Foi preciso coordenar chutes, socos e pegadas com técnica e agilidade. Mas, de acordo com o instrutor Eduardo Berla, da Academia Eldorado, na capital paulista, essa dificuldade inicial era esperada, já que as aulas especiais no mês das mulheres envolvem exercícios de vários níveis. No curso tradicional, o ritmo é outro: primeiro se aprende a socar, chutar e cair e, só ao longo da graduação, os golpes mais complexos são inseridos.

Preparo emocional

Enquanto tentava me livrar de supostos assaltos e abordagens, só conseguia pensar: “Como aplicar isso em uma situação real?”. Me parece impossível ter clareza e confiança para reagir com precisão caso alguém venha me atacar. Mas quem faz krav maga também passa por esse tipo de treinamento.

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Segundo Mestre Kobi, é preciso exercitar, principalmente, a autoconfiança. “Conforme o aluno evolui, mostramos a ele sua superação, o que o leva a ficar mais confiante”, assegura. O segundo ponto é a coragem, que também vem à medida que o aluno conquista mais habilidade. “Trabalhamos em movimentos específicos, como pular para trás sem olhar. Aos poucos, a pessoa perde o medo”, explica Kobi. Por último (mas não menos importante), vem o controle emocional. “A ideia é colocar o aluno sob stress físico e mental e obrigá-lo, assim, a domar seu comportamento”, pontua.

Para realizar tudo com maestria, são necessários anos de experiência. “Só com a repetição é que essas reações físicas e psicológicas se tornam normais”, diz Eduardo Berla.

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Vale a pena?

Luiza aplica golpe em casos de roubos de colar.

Realmente, percebi que não somos preparadas para reagir nessas situações. Ver as possibilidades que o krav maga pode dar às mulheres de se defender contra os inúmeros perigos a que estamos expostas diariamente me fez concluir que a defesa pessoal é algo essencial de se dominar. Inclusive, quero me desenvolver mais. É empoderador (e até libertador) imaginar que posso mostrar a possíveis agressores que não sou uma presa fácil – ao contrário.

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