Relato inspirador de fotógrafa que passou por transição capilar
Pensa em assumir os cachos, mas não sabe por onde começar? O depoimento inspirador da curitibana Fernanda Santos pode ser o empurrão de que você precisa
“Cabelo enrolado é lindo, chama a atenção, é diferente… Mas dá trabalho! Na adolescência, só enxergava o lado do trabalho. No colégio, apelidos como miojinho, poodle e cabelinho ruim eram bem comuns. Eu ria, fingia que não ligava, mas no fundo odiava. Me sentia fora do padrão; bonito era ter cabelo liso.
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Perdi as contas de quantas vezes acordava de manhã e meus fios estavam armados. Passava água, quilos de creme e gel, e nada resolvia. A solução costumava ser um coque bem sem graça. Saía de casa frustrada. Nessa época, era pouca a variedade de produtos para cachos; tentava alternar entre três marcas mais um gel azul e finalizava com perfume para disfarçar o odor forte.
Até que surgiu a milagrosa escova progressiva, que prometia alisamento “sem danos”. Meus olhos brilharam. Marquei em um salão confiável após convencer meus pais. Era quase impossível ficar com os olhos abertos durante o procedimento, pois o formol ardia feito queimadura e o odor era impossível. Mesmo assim, estava feliz. Me emocionei ao ver o resultado. Após a primeira lavagem, porém, percebi que o produto só era ativado com o calor — começava ali uma relação de amor e ódio com o secador e a chapinha; passei duas horas diárias com meus aliados por dez anos da minha vida.
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Durante esse tempo, perdi as contas de quantas vezes apliquei formol — em média a cada dois ou três meses. Na mídia, uma quantidade sem fim de casos de couro cabeludo queimado, problemas respiratórios, queda capilar… Eu não ligava. Apenas me preocupava com a estética, em me sentir bem e bonita.
Há um ano, passei a reparar em meninas de cabelo cacheado, na proliferação de produtos específicos nas prateleiras e nos anúncios de TV, em vídeos na internet. Os questionamentos vieram naturalmente: E se eu tentasse? Como ficaria? Me aceitaria?
A insegurança também foi inevitável. Medo do que os outros iriam pensar e falar. Medo de não me achar bonita. Mas precisava tentar! Amadureci a ideia e, pela primeira vez, coloquei a saúde em primeiro lugar. Saber que cabelo enrolado estava na moda ajudou, é claro. Li inúmeros relatos, dicas e frases de motivação. Me dei conta que seria o tipo de decisão que ajudaria a me reencontrar como pessoa. Imaginei como seria bom me livrar do secador, da chapinha e da progressiva. Mas como tudo tem seu preço, sabia que não seria fácil.
Parei imediatamente com a progressiva. Não tive coragem de me aventurar no Big Chop (BC), termo usado para o corte bem curto que tira de uma vez toda a química dos fios. Durante cinco meses, continuei a fazer escova para disfarçar a raiz crespa. Foi um período difícil e ler depoimentos de outras meninas que passaram pela mesma situação encorajou muito. Contar para o maior número de pessoas que estava em fase de transição e que deixaria meu cabelo natural crescer novamente também ajudou — para a minha surpresa, todo mundo apoiou.
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Chegou o grande momento de assumir os cachos. Fui à farmácia comprar cremes hidratantes — essenciais para as cacheadas! — e coloquei em prática uma técnica chamada dedoliss, que é basicamente enrolar com o dedo pequenas mechas de cabelo para ganhar o formato encaracolado. Amei o resultado! Senti um peso sair das minhas costas, estava livre!
Ainda não cortei o cabelo, mas pretendo fazer isso em breve. Uso secador para ajudar a ficar mais definido, mas a chapinha já foi aposentada. Cada cacho que se forma é uma vitória. Tem dias que ele não enrola por nada, mas dou meu jeito. Apesar disso me sinto feliz e não me arrependo nenhum minuto de ter tomado essa decisão.
A transição gera mudanças dentro de você e essa mudança vem do coração. E tudo o que for externo será apenas um detalhe. Aceitação, amor-próprio, autoconhecimento. Algumas meninas já vieram me perguntar como estou lidando com isso e o que estou fazendo. Isso me deixou extremamente feliz! Saber que eu posso ajudar alguém a passar por isso também é muito recompensador.”