Juliette: autoconhecimento para não se deslumbrar

Diante do sucesso repentino no “BBB 21”, Juliette apostou na terapia para manter a cabeça no lugar e não se deslumbrar ou abater com a fama

Por Ana Paula Ferreira
Atualizado em 21 out 2024, 16h31 - Publicado em 11 dez 2023, 08h00
Juliette para Boa Forma
Make/hair: Will Vieira | Stylist: Maria Antônia Valladares  (Fotógrafo: Hugo Toni/BOA FORMA)
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São quase três anos desde que Juliette ganhou o título de “fenômeno” ao ser anunciada campeã do “Big Brother Brasil 21” com mais de 90% dos votos.

O tempo passou e a até então advogada e maquiadora mostrou que, mesmo já estando longe das câmeras do reality, ainda tinha muito mais para mostrar ao público. Atualmente com uma carreira de cantora e uma legião fiel de fãs, a artista tem vivido uma realidade que sequer chegou a alimentar como sonho no passado.

Para mim, ser cantora era tão utópico que eu não ousava verbalizar e nem pensar sobre”, contou à Boa Forma.

Quando saí do reality, vi a possibilidade disso e vi que as pessoas enxergaram a musicalidade de mim, e eu achei essa conexão tão bonita – porque o que aconteceu é inegável, das músicas que eu cantava, dos artistas que eu exaltava, do quanto eu me conectava com as pessoas aqui fora –, que eu não quis perder essa comunicação com as pessoas e nem comigo mesma.

Para chegar onde está hoje, contudo, foi preciso ter resiliência para enfrentar as dificuldades e muita terapia, que a ajudou a entender como lidar com tudo o que aconteceu e segue acontecendo de novo em sua vida.

Até hoje, acho que a terapia é uma das coisas que me mantêm de pé. Eu já estava nesse processo de entender que as atitudes das pessoas não são sobre mim. Seja amor, seja raiva, inveja, ódio… É sobre as dores delas, alegrias delas ou a vaidade delas, declarou nossa capa de dezembro.

As pessoas me amam por empatia, identificação, história e dores semelhantes, vaidade, ego… E nada disso fala sobre mim, mas sim sobre o outro. Então fui fortalecendo essa ideia para manter o pé no chão, entender que não posso nem me deslumbrar e nem me machucar com isso”, completou.

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A seguir, Juliette conta mais sobre a relação com sua saúde mental, as mudanças pelas quais passou nos últimos anos e os planos futuros para a vida profissional e pessoal.

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Make/hair: Will Vieira | Stylist: Maria Antônia Valladares (Fotógrafo: Hugo Toni/BOA FORMA)

Juliette sobre:
Saúde e bem-estar

Qual o significado de bem-estar na sua vida?

Eu acho que o bem-estar é um equilíbrio de todos os setores. É quando você está com uma saúde equilibrada, a mente equilibrada e a vida equilibrada, socialmente e psicologicamente. Quando você tem um equilíbrio, você tem um bem-estar. Eu me sinto bem quando eu estou equilibrada em todas as áreas, e quando não estou, eu vou buscar de equilibrar.

Você gosta de ficar sozinha ou você prefere estar sempre rodeada de amigos e família?

Eu não gosto de estar sozinha. Acho que estou ficando mais experiente ou então mais cansada, porque tenho gostado mais de ficar no quarto, assistindo TV, descansando… Antes eu odiava. Só que isso só dura um dia. Em um dia eu já arrumo coisa para fazer, já vou arrumar as plantas, os livros, as roupas… Invento qualquer coisa. Em um dia eu já não aguento mais, já quero gente, nem que eu fique sem fazer nada perto da pessoa, mas eu gosto de gente. Fui criada assim, num ambiente coletivo, né? Muitos irmãos, muita família. Na ausência disso, eu não me reconheço muito. Então eu até gosto de descansar sozinha, mas é um dia para recarregar e voltar.

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E você já tinha acompanhamento com terapeuta antes do “BBB” ou começou depois da fama?

Antes do “BBB 21” eu comecei a entender a importância da terapia. Eu já tinha tido algumas sessões na escola, mas era uma conversa muito superficial. Só depois de adulta, quando eu tentei terminar meu primeiro relacionamento, acho que já tinha uns 23, 24 anos, que vi que eu não conseguia sozinha e fui procurar uma terapeuta. Foi quando conheci a terapia de fato. E até hoje eu acho que a terapia é uma das coisas que me mantêm de pé.

Faço terapia uma vez por semana. E eu leio muito. Eu acho que a terapia me ajuda muito a equilibrar tudo isso e a superar coisas que sozinha eu não consigo. Tenho dois recursos: terapia e fé. Eu sou religiosa, sou cristã, então me apego a isso e a terapia para tentar driblar as coisas da vida, que não são poucas.

Make/hair: Will Vieira | Stylist: Maria Antônia Valladares
Make/hair: Will Vieira | Stylist: Maria Antônia Valladares (Fotógrafo: Hugo Toni/BOA FORMA)

Tem alguma outra coisa que você faz para cuidar da saúde mental?

Acho que só consegui meditar umas duas vezes na minha vida inteira. Tenho a mente muito acelerada. Eu queria muito, inclusive. É uma das minhas metas agora: conseguir meditar, procurar pessoas que me ajudem com isso. Mas eu gosto muito de ler. Quando leio, também é uma terapia para mim. Consigo ampliar muito minha visão de mundo, de criatividade, de tudo. E andar de moto também. Andar de moto me deixa mais dona de mim. A moto tem um significado de lugar afetivo, porque nasci na oficina mecânica, e tenho minha família inteira mecânica. Então tem um lugar afetivo que traz autonomia, poder, respeito, carinho. E eu me sinto dona da minha vida, sinto que ali eu sou responsável pela minha vida de uma forma única, então me sinto livre sabe?

Juliette sobre:
Movimento e alimentação

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Você gosta de treinar, praticar algum esporte?

Gostar é muito forte [risos]. Eu gosto quando termina. Quanto estou pronta eu não gosto, antes de começar eu odeio e quando começo eu já fico:  “Meu Deus, que hora acaba? Falta quanto?”. Aí, quando termina, eu sinto prazer. Meu Deus, que sensação maravilhosa. Mas durante eu tenho vontade de correr. Não gosto muito, mas faço e busco sentir prazer nisso, insisto em sentir esse prazer. Tem horas que vem, tem horas que não vem, mas eu busco com todas as minhas forças gostar. É o processo. O cenário ideal é amar o processo, mas nem sempre a gente consegue. Mas o resultado eu amo. O “depois” eu amo, mas o “durante”, se eu disser que amo, é mentira. Ainda assim eu treino muito, quase todos os dias. Ando de bike, faço dança… Enfim, eu faço. Amar é muito forte, mas me dedico.

Como é sua rotina alimentar?

Eu me alimento bem. Durante a semana tento comer o mais saudável possível, mas no final de semana eu vou “acanalhando”. Aí vem um japonês que eu não tiro, um doce… Açaí, amor, se eu não comer três vezes na semana… Mas aí como com fruta, não com leite condensado. Vou adaptando ao meu paladar, que é muito doce. Mas no geral eu como bem e quando eu desando volto rápido, porque se deixar eu vou comer um pudim inteiro, atacar a cozinha de madrugada …

Make/hair: Will Vieira | Stylist: Maria Antônia Valladares
Make/hair: Will Vieira | Stylist: Maria Antônia Valladares (Fotógrafo: Hugo Toni/BOA FORMA)

E você consome bebida alcoólica?

Eu amo! É uma das coisas que eu mais amo. Uma cervejinha gelada, um vinhozinho… Só que quando estou em projetos eu paro o álcool, porque me atrapalha muito em performance, de cansar rápido. Então se eu fizer um show no final de semana eu não bebo antes. Parei de beber tem uns dois meses, aí tomo algo uma vez ou outra, mas estou diminuindo. Quando quero perder um pouco de peso também tiro o álcool, ou quando quero ganhar mais músculo. O álcool atrapalha muito nisso.

Juliette sobre:
Beleza

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Teve alguma vez que você não se sentiu bem com a sua imagem? 

Eu acho que na adolescência. Eu tinha sobrepeso, usava aparelho, tinha acne. Aquele período da fase adolescência para a adulta eu odiava minha aparência sim. Mas depois que comecei a tomar consciência de que aquilo não era muito sobre mim, mas algo social também, entendi o que tava acontecendo e tentei fortalecer outras coisas, como minha autoestima. Aí já comecei a gostar do meu corpo com mais peso e já não lutava contra isso, fui me aceitando. Hoje em dia eu vou fazendo uma coisa ali, outra aqui, mas continuo me amando assim, eu nunca tive um grande problema com isso.

Você já fez algum procedimento invasivo ou não invasivo de corpo?

Antes de ser famosa eu já tinha colocado prótese nos seios, porque eu pesava mais. Cheguei a 70 kg e acho hoje peso 57, 58kg, então minha pele ficou flácida depois que eu perdi peso. Inicialmente, quando a minha irmã faleceu, perdi 12 kg em um mês, dois meses, e eu não ganhei mais. Eu só fui equilibrando na saúde, né? Porque não perdi de uma forma saudável, mas tentei manter de uma forma saudável. E aí fiz as próteses. Já, depois da fama, eu diminuí a prótese e fiz lipo também. Agora fiz um procedimento que não é lipo, mas ele trata a flacidez da pele. Já no rosto não fiz nada. Minha boca é natural, meu maxilar é natural, tudo na cara é natural [risos]

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Make/hair: Will Vieira | Stylist: Maria Antônia Valladares (Fotógrafo: Hugo Toni/BOA FORMA)

Você é profissional de beleza já tem um bom tempo. Desde aquela época você já tinha cuidados com a pele? Isso se intensificou depois da fama?

Eu sempre tive uma noção de estética, de beleza. Sempre amei esse universo desde criança. Arrumava todas as minhas amigas, cuidava do cabelo, da maquiagem. Então sempre vi a importância de ter uma pele bonita e saudável. A minha mãe tomou muito sol, então ainda jovem ela já tinha pele muito machucada pelo sol e eu ficava com dó. Então eu olhava e dizia: “Mãe, tem que usar protetor!”. Descobri o protetor solar quando criança e já cuidava da minha pele para proteger do sol. Então antes eu já cuidava muito. Depois, como profissional de beleza, eu cuidava da minha e da dos outros. E melhorei muito também, né? Porque aí vai para o dermato, usa vários laser, liftings e não sei o que… Eu amo procedimentos assim, de tratamento. Só não faço intervenção. Eu só fiz botox no rosto e pronto. De resto é só hidratação, “choquinho” e laser.

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Rotina de cuidados

A cantora possui tendência à acne e pele oleosa, então seus cuidados incluem um sabonete específico, hidratação para pele oleosa e protetor solar — “É o básico e não abro mão.”

“Cabelo é o xodó da [minha] vida. Eu amo cabelo e sempre eu gosto dele brilhante.” Por isso, Juliette tem vários produtos, que vai usando de acordo com a necessidade — “tem hora que ele tá mais oleoso, menos…”

Ela também procura fazer um tratamento mais intenso por semana, em casa. “Trabalhei com cabelo, por 10 anos. Então cuido muito. Adoro e tenho muito orgulho dele.”

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Juliette sobre:
Carreira

Você sempre teve vontade de cantar?

Antes eu nunca tinha visto a música como uma profissão, então nunca cogitei ser cantora. O que eu fazia era amar música, sentir a música e cantar, mas em nenhum momento da minha vida pensei em trabalhar com isso. As pessoas sempre diziam que eu era afinada, que podia ser cantora. Eu recebia o elogio mas não gostava desse cenário. Para mim, ser cantora era tão utópico que eu não ousava verbalizar e nem pensar sobre. Era algo distante e eu precisava trabalhar, estudar e ter alguma coisa concreta, uma renda, então não cogitava esse cenário. A música sempre esteve em mim, então eu queria ser cantora, mas não trabalhar com música. Quando saí do reality, vi a possibilidade disso e vi que as pessoas enxergaram a musicalidade de mim e eu achei essa conexão tão bonita – porque o que aconteceu é inegável, das músicas que eu cantava, dos artistas que eu exaltava, do quanto eu me conectava com as pessoas aqui fora, – que eu não quis perder essa comunicação com as pessoas e nem comigo mesmo. Se há uma coisa real em mim é a música, porque ela independe de profissão, ela independe de lucro ou de qualquer coisa do tipo, ela faz parte de mim.

Você se surpreendeu de alguma forma com a carreira de cantora?

Uma coisa é você cantar e sentir a música, com sua individualidade, sua espiritualidade, e outra coisa é você fazer isso com uma profissão. É muito difícil fazer da música uma profissão. Eu acho que eu era mais cantora quando não trabalhava com música. É muito difícil, muito complicado. O mundo da música é duro, mas a sensação de estar em cima de um palco se conectando com o público é algo que só um cantor vai entender. É um sentimento que você não consegue de outras formas, você não chega nesse lugar de emoção de outras formas. Você se arrepia inteiro, sente vontade de chorar, se comunica com as pessoas como uma energia mesmo. Então isso me surpreendeu muito. Eu me assustei quando subi no palco. É uma onda sonora, você sente ela chegar atrasada, é diferente! Então me surpreendeu, me assustava. Mas é muito gostoso. Essa é a melhor parte é como cantora.

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Make/hair: Will Vieira | Stylist: Maria Antônia Valladares (Fotógrafo: Hugo Toni/BOA FORMA)

Você fez parceria com diversos artistas recentemente. Tem alguém que você ainda queira trabalhar junto que ainda não rolou?

Ah, tem um monte! Sou fã de tanta gente, que se botar a lista aqui a gente vai até amanhã. Além de cantora e artista, eu sou público. Passei 32 anos sonhando em chegar perto dessas pessoas, então nada mudou, quero fazer feat com todos os que eu sempre admirei. Eu quero Caetano, Chico, Gil, Gadu… Todos que vocês sabem que eu amo, eu quero.

E o contato com os fãs mudou depois que você se lançou como cantora?

Acho que mudou mais com o público geral por me enxergar de uma forma antes e agora estar se adaptando a me enxergar em outro lugar, como cantora. Isso é normal para acostumar. É como se você conhece uma pessoa pelo apelido e de repente você precisar chamar pelo nome. Mas com os meus fãs, pelo contrário. Eles me fortalecem tanto, sonham muito mais que eu, me estimulam, acreditam, dão player, me dão premiação, vão atrás de tudo, brigam por mim… Acho que eles assumiram essa guerra junto com comigo, de “ela é minha cantora!”. Eu acho que dei para eles mais uma luta, porque não acabou ali no “Big Brother Brasil”. A gente começou outra, então ele se alimentam disso, de propósitos. Então meus fãs fazem isso, eles ganham tudo! Toda premiação que me botar eles ganham, ganham dinâmica, rifa, ganham que você imaginar [risos]. Eles são muito unidos e compram minhas batalhas de uma forma que eu nunca imaginei na minha vida. Eles são muito fiéis. É impressionante, tem de senhorinha a criança.

Sua relação com eles é próxima? Porque é muita gente, né? Isso te assusta?

No início assustou. Assim que eu saí do reality assustou muito e eu tava com medo de multidão. Eu tenho um pouquinho de fobia de multidão, sempre tive. E depois da pandemia eu fiquei com um pouquinho mais, então me assustava. Quando eu saí do “BBB” aconteceu um episódio que abriram a porta do carro em movimento e ali eu tive um gatilho e fiquei com muito medo de gente. Então as pessoas chegavam perto de mim e eu ficava tremendo, durante um tempão. Depois passou e eu comecei a aproximar essa relação com eles cada dia mais. Então todo aeroporto que vou, tem um grupinho me esperando. Tenho também um grupo de WhatsApp com quase 200 mil pessoas lá. Então eu falo com eles por lá. Eles não me respondem mas eu falo com eles. No Twitter também tem vários fã clubes. Faço reunião com eles mensalmente, faço chamada de vídeo, é uma bagunça. Aí eu falo um minuto para cada um, passa horas e mais horas, falo da vida, aí um chora, o outro chora, eu choro… É uma novela [risos].  Isso é como uma família.

Juliette sobre:
Vida pessoal

Depois de quase três anos que você saiu do reality, o que mudou internamente em você?

Ixi, tanta coisa. Acho que em três anos todo mundo muda, independente de um reality. Muita coisa mudou, passei por muitos altos e baixos. Acho que retroagi em alguns momentos e evolui em outros. Hoje eu tendo tudo — oportunidade e privilégios financeiros ou sociais — eu valorizo ainda mais o que importa. Então, além do reality, que me mostrou um lado da vida que eu não conhecia e nem esperava conhecer, um mundo de vaidade, ego, competição além do normal, eu olhei para minha e viu o quanto minha realidade é valiosa. O processo que passei também de saúde, no primeiro ano de suspeitar de um aneurisma, me fez enxergar o mundo com outros olhos. Tento reforçar essa certeza de finitude até hoje, mesmo não tendo mais nenhuma suspeita de nada, vivo como se realmente eu pudesse ir embora, porque todo mundo pode. Então olho a vida com um senso de finitude que essa experiência me trouxe. Acho que foi um combo, evolui muito, graças a Deus.

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Make/hair: Will Vieira | Stylist: Maria Antônia Valladares (Fotógrafo: Hugo Toni/BOA FORMA)

Você trouxe uma visibilidade enorme para o seu povo, para cultura paraibana e nordestina. Como é isso hoje? Você sofreu ou sofre algum tipo de preconceito?

Eu sofro até hoje, [o preconceito] não mudou, nem acabou. Eu acho que o que aconteceu comigo foi que eu fortaleci o orgulho do meu povo, fortaleci o amor, o orgulho, a dignidade do meu povo. Mas as pessoas fazem até hoje. Não me machuca porque acho muito pequeno, medíocre, e tenho dó. Quando estou com paciência, eu vou lá tentar contornar. Quando não, eu só sigo a vida. O que faço é “retribuir” fazendo o meu melhor, dando mais orgulho ainda ao meu povo e tendo mais orgulho do meu povo. É engraçado que as pessoas tratam a gente quando se fossemos um desenho animado, algo estranho. Semana passada saí com a minha sócia e recebemos uns quatro ou cinco tipos de xenofobia diferente. Ela ficou passada. É do tipo que, chegando no lugar, a pessoa fala: “Oxente, menino é tu é? Tu quer um café? [fazendo sotaque nordestino]”. E eu pergunto se a pessoa é do nordeste e ela diz que não. São comentários que às vezes não são de maldade, mas é implícito ali um estranhamento ou um sentido de deixar cômico, caricato. Então é algo presente na nossa sociedade sim. Você só tem que entender quando é maldade e quando é estrutural, e eu entendo bem isso.

Você já falou algumas vezes publicamente sobre assuntos feministas. Atualmente, inclusive, vocês estão em um grupo forte de mulheres, né? Anitta, Marina Sena… A relação com mulheres fortes te empoderou mais? Como é sua relação com esse tema?

O feminismo sempre foi uma das causas da minha vida, assim como as minhas raízes. O feminismo é uma das minhas bandeiras e eu sempre estudei muito, sempre tentei me preparar muito para enfrentar todas as adversidades que nós mulheres enfrentamos de uma forma bacana e preparada, qualificada para lutar com isso. Essas mulheres, cada uma eu admiro em um lugar, uma na musicalidade, outra na força… Eu já admirava essas mulheres antes, depois que conheci isso só cresceu. Consegui me conectar com elas cada uma em lugarzinho diferente. E acho que isso é uma questão de todas as mulheres, de de fazer a outra se sentir livre, de colocar sua vida como um espelho ali para outra olhar e dizer assim: “Nós podemos!”. Acho que é uma busca de todas nós. E se você olhar aqui meu livros [mostrando a estante], olha o tanto de livro feminista. É para não baixar a cabeça, para não esquecer. Você tem que estar o tempo inteiro se fortalecendo, se preparando.

Dizem que homem tem medo de mulher forte, feminista. Depois de toda essa exposição, ficou mais difícil se relacionar? Os homens chegam em você?

Homem tem medo de mulher forte, seja ela quem for. Ele tem medo da força, da autonomia. A maioria, né? São casos raros que não. Então foi difícil, assustador e engraçado ao mesmo tempo. Você percebe o quanto o poder feminino estremece a masculinidade frágil de alguns e eles não aceitam. Então sim, várias vezes chegaram até a verbalizar e dizer assim: “Ah, mas tenho medo porque tu é toda militante, toda feminista…”. Então que bom que tem medo, é para ter medo mesmo, porque aí já filtra, né? Os covardes já ficam na primeira barreira e a gente não tem tanto tempo para perder. Já é tão complicado… Então sim, essa minha postura e tudo que me cerca filtrou muita coisa de aproximações, ou então levou, graças a Deus, para longe, bem longe.

Juliette para Boa Forma
Make/hair: Will Vieira | Stylist: Maria Antônia Valladares (Fotógrafo: Hugo Toni/BOA FORMA)

Qual seu maior medo e seu maior sonho na vida?

Medo? Eu acho que perder minha mãe. É algo que eu sei que vai acontecer, mas que é uma das piores coisas que eu tenho medo. O resto não. Já passei tanta coisa. Não tenho medo de não ficar mais famosa de perder tudo… Não tenho medo de nada na vida agora. E um sonho é fazer música, ser reconhecida pela música. E fazer um projeto social, que eu já estou pensando também, mas é segredo ainda.

Fotógrafo: Hugo Toni
Make/hair: Will Vieira
Stylist: Maria Antônia Valladares

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